top of page

Iniciando a Nossa Grife

Quando decidi que a minha etiqueta seria uma grife de vestidos, o próximo passo, para isso acontecer, foi buscar por uma costureira. O primeiro movimento que fiz foi ir até um ateliê de conserto de roupas que tinha perto da minha casa e perguntar para a costureira - cuja sempre levei as minhas roupas para pequenos ajustes e trabalhava muito bem - qual o orçamento para que fizesse um vestido do zero para mim. Lhe mostrei a foto do vestido que nos serviria como referência e ela pediu um prazo de dois dias para me dar a resposta. O valor informado não foi muito atrativo. Como a ideia não era fazer apenas um vestido e sim alguns, tentei uma negociação, de modo que ficasse uma proposta interessante para ambas. Tal costureira me passou então o contato de uma outra, que entendi ser a detentora do orçamento passado, para que eu conversasse diretamente com a mesma.



Num primeiro momento parecia um presente dos céus. A costureira era bastante solicita, combinamos de ir comprar os tecidos juntas e foi uma manhã de muito aprendizado, com ela me dando várias dicas, me mostrando como escolher os tecidos e quais lojas eram melhores. A proposta final da sua mão de obra ficou bem mais interessante do valor informado inicialmente e fechamos o negócio. O prazo da entrega dos vestidos ficou um pouco incerto, pois ela precisaria fazer um primeiro, para ter uma base do tempo que levaria em cada peça.


Tínhamos uma relação respeitável e amigável. Fui até a sua casa umas duas vezes para provar o vestido - ela estava fazendo a peça piloto de acordo com as minhas medidas - e um dia precisei viajar. Até então ela ainda não tinha entregado a peça piloto e, durante a minha viagem, me comunicou que havia acabado um dos tecidos.


O tecido que faltou era o forro, o que me causou certo alívio de não ter sido os tecidos estampados, pois um deles eu tinha comprado toda a quantidade disponível da loja e não teria como repor. Todavia, como quando comprei estávamos juntas e ela mesma tinha calculado a quantidade necessária para todos os vestidos - sendo que dois, um de cada cor, seria para mim - , achei estranho que tivesse faltado toda aquela quantidade - o dobro do que eu tinha comprado - , então falei que como eu estava viajando, seria melhor conversarmos pessoalmente para que eu pudesse entender o que tinha acontecido. Ela concordou.


Dois dias depois, quando eu ainda estava em viagem, lhe enviei uma mensagem mega empolgada, perguntando sobre o andamento dos vestidos, pois, ao meu ver, ela daria prosseguimento com o que fosse possível ir adiantando, sem os tecidos que acabaram. Dai, a mesma me respondeu com um áudio e foi quando compreendi que ela tinha ficado ofendida, quando não reagi da maneira que ela esperava referente a falta dos tecidos. Como se o fato de eu sugerir que conversássemos melhor pessoalmente, demonstrasse que eu estava desconfiando dela. Longe de mim, gente. Eu simplesmente queria entender melhor sobre os custos, uma vez que viria a trabalhar muito com isso.


A partir desse momento, nossa relação nunca mais foi a mesma. Ela se revelou uma costureira extremamente temperamental, fazendo com que eu sempre me sentisse pisando em ovos ao falar com ela. O próximo atrito que tivemos foi quando a peça piloto ficou pronta. Eu não fiquei satisfeita com o acabamento dos babados do vestido. Me remetia aos acabamentos das peças baratas que vendem no Brás.


Fiquei um pouco sem jeito de dizer-lhe pessoalmente, então fui embora para casa, extremamente reflexiva, pensando em como eu poderia abordar essa questão com ela, sem que fosse criado nenhuma indisposição entre a gente, como na situação anterior. Por outro lado, eu também não sabia como poderia explicar-lhe o que não gostei, sendo que se ela estava me entregando um trabalho mal feito, achando que era bom, então ela não entenderia o que me desagradou se, aos olhos dela, uma costureira profissional, estava tudo lindo.


Cheguei em casa, tirei foto do babado mal acabado e mandei para meu namorado e amigos opinarem, visto que sou considerada por eles crítica demais, talvez fosse exagero meu, precisava considerar a opinião de outras pessoas também. No entanto, sim, eu não estava exagerando, o acabamento não estava digno de um vestido que eu gostaria de produzir para a minha loja.

Com jeitinho abordei essa questão com ela. Claro que não falei que tinha achado o acabamento mal feito, apenas disse que estava diferente do que eu imaginava e achava que poderia melhorar. Ela respondeu que aquele era o melhor acabamento que poderia ser feito. Não satisfeita, conversei com ela e decidi então comprar o vestido que me servia como referência, para que víssemos pessoalmente o acabamento utilizado no mesmo e nos guiássemos por ele. Muito melhor do que ver por foto, seria ter a peça em mãos. Se tratava de um vestido importado da Suécia - pois é gente, paguei em euro - e pedi que durante esse tempo ela não desse continuidade nos vestidos, enquanto a peça não chegasse.



Por mais cuidadosa que eu fosse ao falar isso com ela, percebi no seu áudio de resposta um tom não muito amigável, quando a mesma só se preocupou em me alertar que por mais que não tivesse ficado do meu agrado, ela não desmancharia o que já fez, pois se tivesse que chegar a tanto, me cobraria à parte. Respondi para ela que por se tratar da peça piloto não teria problema, mas que para as próximas eu gostaria de um acabamento melhor.

Durante esse tempo de espera, paralelamente, fiquei em contato com um estilista, que já estava desenhando os modelos dos meus próximos vestidos. 😏 Renan Giordane é um amor de pessoa e consegui seu contato através de um amigo. Ele é fashion designer, cria modelos de roupas incríveis e pedi que desenhasse vestidos exclusivos para a minha loja.


Conversando com o Renan sobre essa minha experiência com tal costureira, lhe mostrei a foto do acabamento que não tinha me agradado e ele fez algumas sugestões de coisas que poderiam ser feitas para melhorar o modelo, uma vez que a peça importada demorava a chegar, o que consequentemente me causava um certo receio de um extravio, por medo de que o meu projeto ficasse estagnado por conta disso.



Vinte dias se passaram desde que falei com a costureira pela última vez. Quebrei o silêncio e a contatei para contar que a peça importada tinha passado do prazo de entrega, que eu desconfiava que tivesse ocorrido extravio e perguntei se ela poderia sugerir algum plano B para podermos dar prosseguimento. Aproveitei também o ensejo e contei das sugestões do Renan para com os vestidos.


Agora sim, o que havia sobrado de cordialidade, se tornou uma lembrança distante. A costureira mais uma vez me surpreendeu com o seu temperamento. O que poderia ser visto como um trabalho em equipe, com ambos os lados se ajudando, por ela foi visto como uma traição. Ela se alterou por outra pessoa de fora, ter dado “pitaco” em seu trabalho, como se o fato de alguém sugerir algo que ela mesma não pensou, fosse algo desmoralizador.


Suas primeiras palavras foram: “Se ele entende de moda, eu também entendo!”, como se fosse uma competição ou disputa de poderes. Novamente me vi pisando em ovos, por nunca saber como a outra pessoa vai reagir a qualquer coisa que estiver sendo dita. No final de um dos áudios, ela ainda demonstrou forte ressentimento, como se eu quisesse levar os vestidos para o Renan fazer. Imagine, o rapaz era estilista, não costureiro! Ela estava se afetando por algo completamente desnecessário. Ainda tive que ouvir que eu estava sendo antiética por ter falado do trabalho dela para outra pessoa. Oi? Foram muitos ataques gratuitos. Estava começando a ficar insustentável trabalhar com ela.



No dia seguinte, por ironia do destino, o bendito vestido importado chegou! Se eu tivesse esperado mais um dia, isso tudo poderia ter sido evitado! (Mas não tinha como, eu sou ariana, rs.) Enviei uma mensagem para a abençoada e combinamos de eu ir levá-lo para ela. Afinal, apesar do grande embate do dia anterior, ainda era do meu interesse que ela terminasse os vestidos, pois, aquela altura seria ainda mais desgastante e difícil ter que levá-los para outra costureira terminar o que ela começou. Novamente fui até a sua casa, nos tratamos com respeito, ela concordou que os babados que ela fez poderiam ser melhorados e combinamos o dia para eu retirar todos os vestidos da estampa rosa primeiro.


Nossa trégua durou pouco. Tivemos um novo atrito, uma semana depois, quando estávamos tratando da entrega dos vestidos. Ela disse que me entregaria todos os que tínhamos combinado, em determinado dia, porém, quando chegou a tal data e lhe enviei uma mensagem para definirmos o horário, ela disse que só me entregaria um - o que se referia a peça piloto, que ela pegou de volta para arrumar - e ainda se achou no direito de se crescer para cima de mim, quando eu procurei entender o que havia ocorrido com os prazos combinados, como se, mais uma vez, eu devesse ouvir e ficar quieta.



Ela iniciou um grande discurso de reclamações em que tive que ouvir que os meus vestidos estavam lhe causando um grande estresse, que ela tinha cobrado barato demais e que esse trabalho era o mais complicado e complexo que ela já pegou. Colocou a maior dificuldade, como se ela tivesse aceitado o trabalho às cegas, sem ter visto e analisado uma foto da peça modelo antes.

O intuito era que fosse uma parceria agradável e vantajosa para ambas. Não queria que fosse um trabalho desgastante, que ela não estivesse gostando de fazer. Reajustar o valor combinado àquela altura estava fora de cogitação, uma vez que também tive muitos gastos extras, tais como a compra do dobro do forro, elásticos para o punho, inter tela, custos estes que ela foi me passando ao longo do processo e que sequer pude verificar se o valor repassado era o correto, já que era ela quem comprava esses itens para mim. Então apenas pedi que ela descansasse, que se alimentasse e dormisse direito e que levasse o tempo que considerasse melhor, não precisava fazer nada com pressa, nem de maneira exaustiva. Combinamos dela me contatar quando os vestidos estivessem prontos, sem que houvesse alguma pressão com prazo predeterminado.



Quando enfim os vestidos ficaram prontos e fui buscá-los, me surpreendi com o resultado. Ela tinha caprichado, deu o seu melhor, me fazendo crer que toda a espera tinha valido a pena e que os meus vestidos seriam um verdadeiro sucesso. Contudo, apesar do excelente trabalho prestado, a nossa comunicação teve seus altos e baixos, o que não me motivava continuar trabalhando com ela.


Os novos vestidos, que já estão sendo confeccionados por outra costureira, também me renderam uma outra experiência que merece ser compartilhada, mas essa fica para a próxima postagem!



PS.: Lidar com costureira é um desafio!

22 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
Post: Blog2_Post
bottom of page